Recentemente muito tem sido falado sobre a visita do homem mais rico do planeta ao Brasil com a finalidade de firmar uma ‘parceria(?)’ e oferecer internet para 19mil escolas com a Starlink no estado do Amazonas. O que quero discutir aqui é menos sobre os interesses políticos e estratégicos que Elon Musk pode ter envolvido nessa ação e mais sobre: qual o real impacto de internet em escolas públicas do nosso país.
Comecemos com uma pequena história. Em 2019 eu tive a oportunidade de fazer uma imersão etnográfica em uma escola estadual da cidade de São Paulo. A escola era uma das melhores da região em termos de infraestrutura. Possuía um teatro, uma sala de informática com computadores conectados à internet (acredito que somavam-se uns 30 os que estavam em funcionamento). Além disso, a escola tinha recebido um patrocínio em uma época de uma empresa de tecnologia e contava também com uma sala multimídia com 30 tablets em pleno funcionamento. Junto a tudo isso, a escola também possuia rede de internet.
Beleza. Vamos ao que interessa.
No meu mestrado, uma das atividades foi aplicar um questionário e, para facilitar a vida - tanto a minha quanto a dos alunos - resolvi realizar uma survey por meio do Google Forms e utilizar os tablets e computadores da escola para poder fazer essa atividade. “Que sorte a minha”, pensei sobre os tablets.
Em meio ao acompanhamento da aplicação de questionário com os mais de 300 alunos, uma das coisas que eu mais escutei dos professores e professoras foi sobre o quão bom era o fato de eu estar fazendo uma atividade que usassem os tablets e laboratório de informática. A sala multimídia era mais utilizada para apresentações ou passar vídeos do que de fato utilizar os dispositivos de tablets e rede de internet disponíveis com os alunos.
Ou seja, moral da história: de nada adianta ter infraestrutura tecnológica nas nossas escolas se não há nenhum projeto atrelado à mesma. De nada adianta um computador com internet em uma escola se o corpo docente não recebe incentivos ou treinamento para usá-los de maneira criativa e didática. De nada adianta um governo do estado encomendar tablets e usar isso como campanha política, se os tablets serão enviados como dispositivos vazios, sem propósito senão um fim em si mesmos.
É como oferecer sela sem cavalo para montar.
Precisamos de políticas públicas criativas e secretarias de educação realmente engajadas em criar projetos educacionais que envolvam o uso de softwares e tecnologia. E não apenas espaço para uma aparente infraestrutura tecnológica que não agrega ou contribui para o desenvolvimento de nossos jovens.
Ficamos à mercê da ‘boa vontade’ de professores e professoras para ‘encontrar finalidade’ para esses dispositivos, quando sabemos que há uma gama de oportunidades incríveis a serem exploradas e projetos concretos que podem e devem ser desenvolvidos antes(!!!!!!) de qualquer gasto público e envio de dispositivos eletrônicos que serão conectados à rede.
Um exemplo concreto de soma de internet + projeto educacional, são propostas envolvendo uso de jogos na sala de aula. O uso do jogo Minecraft que tem funcionado em alguns países para educação ambiental dos alunos. Não estou dizendo que temos que importar essa inciativas de modo cru para o Brasil. Mas o que precisamos para ontem é que profissionais da esfera pública e da educação partam para ações concretas na mudança do ensino público do nosso país.
E nesse sentido, é mais do que essencial ter um objetivo para além do que a tecnologia como um fim em si mesma.