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Com internet ou sem internet, escolas permanecem as mesmas no Brasil
Coisas de Sociologia
Com internet ou sem internet, escolas permanecem as mesmas no Brasil
Clara Silberschneider
Clara Silberschneider
May 26, 2022
2 min

Recentemente muito tem sido falado sobre a visita do homem mais rico do planeta ao Brasil com a finalidade de firmar uma ‘parceria(?)’ e oferecer internet para 19mil escolas com a Starlink no estado do Amazonas. O que quero discutir aqui é menos sobre os interesses políticos e estratégicos que Elon Musk pode ter envolvido nessa ação e mais sobre: qual o real impacto de internet em escolas públicas do nosso país.

Comecemos com uma pequena história. Em 2019 eu tive a oportunidade de fazer uma imersão etnográfica em uma escola estadual da cidade de São Paulo. A escola era uma das melhores da região em termos de infraestrutura. Possuía um teatro, uma sala de informática com computadores conectados à internet (acredito que somavam-se uns 30 os que estavam em funcionamento). Além disso, a escola tinha recebido um patrocínio em uma época de uma empresa de tecnologia e contava também com uma sala multimídia com 30 tablets em pleno funcionamento. Junto a tudo isso, a escola também possuia rede de internet.

Beleza. Vamos ao que interessa.

No meu mestrado, uma das atividades foi aplicar um questionário e, para facilitar a vida - tanto a minha quanto a dos alunos - resolvi realizar uma survey por meio do Google Forms e utilizar os tablets e computadores da escola para poder fazer essa atividade. “Que sorte a minha”, pensei sobre os tablets.

Em meio ao acompanhamento da aplicação de questionário com os mais de 300 alunos, uma das coisas que eu mais escutei dos professores e professoras foi sobre o quão bom era o fato de eu estar fazendo uma atividade que usassem os tablets e laboratório de informática. A sala multimídia era mais utilizada para apresentações ou passar vídeos do que de fato utilizar os dispositivos de tablets e rede de internet disponíveis com os alunos.

Ou seja, moral da história: de nada adianta ter infraestrutura tecnológica nas nossas escolas se não há nenhum projeto atrelado à mesma. De nada adianta um computador com internet em uma escola se o corpo docente não recebe incentivos ou treinamento para usá-los de maneira criativa e didática. De nada adianta um governo do estado encomendar tablets e usar isso como campanha política, se os tablets serão enviados como dispositivos vazios, sem propósito senão um fim em si mesmos.

É como oferecer sela sem cavalo para montar.

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Precisamos de políticas públicas criativas e secretarias de educação realmente engajadas em criar projetos educacionais que envolvam o uso de softwares e tecnologia. E não apenas espaço para uma aparente infraestrutura tecnológica que não agrega ou contribui para o desenvolvimento de nossos jovens.

Ficamos à mercê da ‘boa vontade’ de professores e professoras para ‘encontrar finalidade’ para esses dispositivos, quando sabemos que há uma gama de oportunidades incríveis a serem exploradas e projetos concretos que podem e devem ser desenvolvidos antes(!!!!!!) de qualquer gasto público e envio de dispositivos eletrônicos que serão conectados à rede.

Um exemplo concreto de soma de internet + projeto educacional, são propostas envolvendo uso de jogos na sala de aula. O uso do jogo Minecraft que tem funcionado em alguns países para educação ambiental dos alunos. Não estou dizendo que temos que importar essa inciativas de modo cru para o Brasil. Mas o que precisamos para ontem é que profissionais da esfera pública e da educação partam para ações concretas na mudança do ensino público do nosso país.

E nesse sentido, é mais do que essencial ter um objetivo para além do que a tecnologia como um fim em si mesma.


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